25.11.09

Meu resgate

(sem fotos ilustrativas para chamar a atenção - lê quem quiser e achar que vale o tempo dispendido)

Vou postar frases e textos que me inspiraram e emocionaram muito em uma das fases mais difíceis pelas quais passei (e depois ainda passei por piores, mas não sabia)..:


“Se quisermos compreender nossa missão, ao longo da vida, temos que
descobri-la aos poucos, através da prática, às vezes solitária, de nós mesmos.
Requer ousadia ouvir nossas necessidades, acolher nossas intuições e limites, não
deixar escapar a alegria do nosso próprio reconhecimento, no mundo e nas
relações.
Este percurso não é uma linha reta. Nossos mal-estares, doenças repetitivas,
costumam ser expressões de uma alma desalojada, sem regaço no corpo. Estamos
aí diante do anseio pela manifestação do ser, mas a experiência desta angustia
também nos embala na escolha de nossos caminhos. Moramos nesse paradoxo.
Precisamos dessa dor para nos constituir em nossa singularidade e, ao mesmo
tempo, queremos nos livrar dela. Mas é através desta angustia, como motor de
nossa busca, que a vida poderá ser vivida, não como uma condenação do oráculo,
mas como uma oferta a ser reverenciada em seu mistério. O destino se apresentará
como um sonho de futuro, na medida em que pudermos ser tocados pelo novo.
Aqui, a ignorância é adubo para uma humildade que nos estabelece. A fatalidade da
vida, assim, dá lugar ao advento da vida, a uma seqüência de inícios que impede o
medo congelante”.

Vera Lucia Marinho 











“(…) and in the end, the love you take is equals to the love you make (…)”

The Beatles 





POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) 

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