30.12.05

Culpa e Solidariedade


Há uma certa pressão velada na caridade, que não a legitima. Não digo que ela não exista, mas creio que existe uma carga de culpa, desejo de livrar-se daquele momento constrangedor em que uma pessoa sofrida vem pedir algo na janela de nossos carros...

A precariedade e dificuldade dos outros (principalmente de quem amamos mais, alguém próximo) dá raiva – ninguém quer ver o irmão sofrendo, por exemplo – às vezes queremos tanto nos livrar do sofrimento que nos trás ver alguém que gostamos em situação adversa, que tratamos mal justo aquele que mais precisa (mas isso é um outro assunto, para um outro post..). Onde quero chegar é na culpa que nos impele a sermos caridosos. E, na minha opinião, isso não é mais caridade, e sim somente a culpa...

Já ouvimos muito que não devemos reclamar da vida, pois se formos, por exemplo, a um hospital, veremos no pronto-atendimento pessoas que sofrem muito mais do que nós, e portanto, estaríamos reclamando de barriga cheia (culpa até de sofrer).

Cada um de nós é um ser humano. Apesar de querermos ser ótimos, o fato é que estamos verdadeiramente permeados de vicissitudes humanas; enquanto não encararmos isso, sofreremos mais.

Em minha opinião, a verdadeira solidariedade é encarar àquele a quem se presta um gesto de ajuda como a você mesmo: um espelho da dificuldade que todos passamos e que circunstancialmente, não estamos passando naquele momento... Acho isso extremamente profundo e importante, pois somos humanos imperfeitos e somos inclusive carentes, como qualquer outro par... Na nossa carência, o que enternece é quando uma qualidade humana de alguém que nos compreende como par nos estende a mão, pois precisamos sempre, em momentos diferentes, mais ou menos... Essa é a verdadeira solidariedade – ajudar a um par, a um igual, como gostamos quando isso acontece conosco, pois não há inferiores entre nós: humanos todos...