21.10.08

O Oitavo Anão


Eu realmente gostaria de que coisas fossem diferentes: acontecimentos que dependem ou não de minha vontade. É incrível quando a realidade dá um peteleco em minha onipotência de achar que o universo é uma bolinha na minha mão e que tudo posso alterar, como num jogo de simulação e equalização de fatores. A realidade é irmã da frustração que traz com ela sua companheira tristeza, velha conhecida minha...

Estou falido em muitos sentidos, percebo agora. Financeiramente, minha alegria, meu brilho nos olhos, meu desacolhimento. Mesmo assim, insisto em viver no mundo da Poliana ou do próprio Dom Quixote, mas um espelho retrovisor me mostra a realidade atrás de mim e rindo nas minhas costas... Dou-me conta o quâo ridículo eu sou e tenho pena de mim, raiva (ódio, ira) de mim por sentir pena, estranheza por sentir e viver tamanho ódio, vergonha por sentir-me estranho, idiota pequenino por sentir vergonha, fraqueza por ser idiota e pequeno, vontade de me debater e como uma carpa subir a correnteza, mas sinto que posso desistir ao perceber a imensa fraqueza diante da violência dessa corredeira que são os acontecimentos que desnudam a realidade (antes coberta por um véu tão lindo e santo - que saudades daquele véu da ilusão e ignorância); ao perceber a iminência de desistir, penso nos exemplos a seguir daqueles que vieram antes de mim e me inspiram (essa é a gasolina da minha vida). Mas agora me dou conta que se esta é a gasolina, o Nitro, o Turbo-Boost é aquele que me vê e pensa e se inspira em mim para ele continuar.... Só de pensar nisso, minha boca não treme nem arqueja, minha lágrimas secam e meus olhos desruborizam.

Ontem passei por um constrangimento que mesmo não dependendo de mim, me faz sofrer agora, me faz triste e me faz envergonhado demais, querendo ser um átomo que queria ser um elétron , na verdade (um quark...). Fui acompanhar um paciente em um colega indicado por mim a eles para realizar um procedimento mais complexo e hospitalar; lá, enquanto eu ainda estava com ele acompanhando outro caso, atrasamos cerca de 20 minutos. O paciente, acompanhado de sua mãe já estava na sala de espera. A mãe dele parece que surtou de desespero e stress e brigou com todo mundo, fez escândalo para a secretária e até para o porteiro do prédio. Nisso, saí da sala e fui conversar com ela, a acalmei e quando foi a vez deles, ela se desculpou ao meu colega. Ontem voltei para atender mais pessoas e isso não saiu da minha cabeça, renitentemente martelando.... Hoje cedo, meu colega me ligou dizendo que não havia gostado daquilo e que eu desse uma desculpa à ela e que não iria operar meu paciente (coitado, ele precisa disso para sua auto-estima e para até mudar de país e estudar fora, libertando-se de sua loucura doméstica, de certa forma). Respeito a opinião de meu colega e acho que é saudável esta atitude (para ele). Mas, me lembro de como eu, ao contrário, sou sempre trouxa: permito demais intromissões como estas e outras mais graves, abusos de mim, deverem para mim, me humilharem, ser este quark pisado e esmagado... (Será que o certo seria eu ser violento e rude, truculento?), ou ao menos a média e equilíbrio o búdico "caminho do meio" ?

Além de tudo, não tem nada pra comer em minha casa, não posso tomar banho, escovar os dentes, puxar a descarga... (estou nervoso) !

Espero que isso também passe (This too shall pass...! ).


Ê Budão !!!!